"Nas Democracias, porque o Número é a ultima ratio, acontece que a direcção da sua vida e a solução dos seus problemas cabem à Irresponsabilidade...
Exemplos de todos os dias, para não dizer de todas as horas, mostram os inconvenientes da Democracia, e, consequentemente, deste critério. As massas, ou por outra palavra, a inteligência mediana em que são absorvidas as inteligências individuais, nem é capaz de reflexão, nem é competente para estudar e prever. As massas são instintivas, caprichosas, flutuantes, inconsequentes, à mercê dum nada que surge, não se sabe de donde, e as conduz e domina. A sua obra é fatalmente deficiente, inferior.
Não há objecção possível a estas observações, e toda a gente as entende. Não há nada mais precário do que o Número como critério da verdade. E quando outras razões não houvesse, havia esta que é fundamental, essencial: é que as unidades não são homogéneas, e nos votos individuais entram factores das mais variadas origens e categorias. A decisão final é, no fundo, uma incongruência.
De resto, basta que o leitor faça esta pequena observação: se o Número é o critério da verdade, a verdade não existe, porque o Número desloca-se muito facilmente dum prato da balança para o outro. E se o cálculo, hoje, dá um determinado resultado, nada garante que amanhã, feito noutras circunstâncias, não conduza a resultados opostos. Mas se a verdade não existe, como consequência do seu critério estar no Número, e se este é a base doutrinária da Democracia - a Democracia é um mito, uma mentira, como tantas vezes tenho afirmado. Pelo que concluo que, por um lado, pelo meu, ou por outro, a Democracia é insustentável!"
-Alfredo Pimenta
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