"Na realidade é inacreditável e inaceitável que um país cuja economia, em 1974, crescia a 7% ao ano (fora o Ultramar, onde crescia mais); tinha a sexta moeda mais forte e respeitada do mundo; possuía 847 toneladas de ouro e 50 milhões de contos em divisas, nos cofres; após estar durante 14 anos em guerra, em três teatros de operações distintos; ter 230.000 homens em armas, em quatro continentes, e quatro oceanos, é inadmissível dizia, que passados 40 anos e sob a capa e invocação da Democracia – erigida como alfa e ómega de tudo – tenha perdido a sua independência financeira!
E sem esta todas as outras são apenas nominais…
E tal aconteceu depois de duas intervenções do FMI (1978 e 1983), e depois da entrada na CEE, em 1986 – está agora a comemorar-se os 30 anos desse semi - desastre, a caminho de um desastre completo – ter entrado no país cerca de dois milhões de contos/dia!
Uma soma enorme – de que nunca se prestou contas – que põem as especiarias do Oriente, o ouro e pedras do Brasil e as riquezas de África, todas juntas, a um canto. E sem as despesas e as perdas em homens e material que todas essas riquezas implicaram!
Pois mesmo assim chegámos a 2008, em pré bancarrota, com uma dívida colossal, impossível de pagar com os indicadores actuais e previsíveis, e com uma "troika" armada em Duquesa de Mântua, no Terreiro do Paço.
Das 847 toneladas de ouro restam 385,3 – foram sendo alienadas ao longo dos anos, as últimas das quais em 2006, nunca se apresentando contas, também, do que se lhes fez.
É preciso ser-se muito incompetente, corrupto e, ou, ganancioso, para se ter chegado a um resultado destes. E tudo feito com o mais abandalhado e cínico desrespeito pelo interesse nacional português.
No fim tudo é apresentado pelo grosso do discurso político, académico, de comentadores e de opinião publicada, como um sucesso retumbante do actual “sistema democrático”, como se a Democracia tivesse de per si, alguma coisa a ver com as contas públicas!
Como se encheu a cabeça às pessoas que têm Direito a tudo e não têm dever a nada, todos se habituaram a reivindicar tudo e mais alguma coisa e ninguém está a fim de fazer sacrifícios. E como não há autoridade para impor seja o que for, ou seja respeitada, aumenta-se a demagogia, o maquiavelismo político, a mentira e os “esquemas” mais diversos que só têm limite na imaginação humana.
E a autoridade neste âmbito tinha que se começar a conquistar pelo exemplo e por responsabilizar política, social e criminalmente todos os responsáveis pelo descalabro.
Apontá-los a dedo e metê-los a ferros.
Ora não se fez nada disto; em vez de se cortar por cima, foi atacar-se impiedosamente as classes mais desfavorecidas da Nação e para evitar que se chegasse a extremos de pobreza, carregou-se ainda mais na classe média, que é aquela que mais tem a perder em todas as circunstâncias.
Em vez de se atacar as gorduras do Estado consubstanciadas nos tachos reservados aos “boys e girls” dos partidos, atacou-se brutalmente as pequenas e médias empresas, causando uma taxa de desemprego insustentável que levou à emigração em massa de camadas da população cada vez mais jovem.
Como há décadas deixámos de ter diplomacia própria, interesses próprios e qualquer tipo de estratégia que não passe por Bruxelas (e pela influência do Grupo de Bildelberg), os dirigentes portugueses tornaram-se papagaios de ideias alheias, até porque se alguma coisa de consistente, que todas as forças partidárias portuguesas fizeram, sem excepção, foi o de acabar com o Poder Nacional Português.
Ora sem Poder não pode haver Estratégia. Deixámos de ter estadistas para ser governados por homens pequeninos."
-Brandão Ferreira
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