"Sinto-me profundamente insultado pela comunicação social, nomeadamente por aquela que sob a manto da designação de jornalismo de investigação, se permite insinuar, sugestionar, instigar, em suma, bacorejar sobre o que pretensamente investigam. Mas investigam mal, de maneira deturpada, insidiosamente provocando o erro fácil de vender com o intuito de promover não a verdade factual mas a perceção errónea da realidade.
Frequentei vários cursos, por motivação e voluntarismo próprio, onde aprendi a comer coisas que causariam vómito à maioria das pessoas, a andar por sítios que enojariam ou assustariam os mais incautos, a fazer coisas e a desempenhar tarefas que não passam pela cabeça da maioria dos cidadãos do meu país. Porquê? Porque no fim da linha, porque quando todos os argumentos e diplomacias estão esgotadas, porque quando urge defender os indefesos, aqueles que muitas e tantas vezes nos criticam, tem de haver um punhado de homens e mulheres capazes e decididos a executarem tarefas e desempenharem missões em prol daquilo que a Nação exige, em prol da segurança e bem-estar de todos, em prol dos desígnios e ditames da política externa deste país que amo e que à sombra da sua Bandeira entregarei os meus despojos para descansar em paz na terra dos meus egrégios avós.
E sinto-me insultado porque vejo pessoas comentar assuntos que não percebem, não tanto pelo interesse de saber mas acima de tudo pelo interesse de vender imagens, vantagens e sobretudo nivelar por baixo aquilo que no seu íntimo sabem estar acima das suas comezinhas opiniões.
E para os que arrisquem erradamente achar que defendo cursos onde possam morrer pessoas, afirmo que estão completamente enganados pois todos os esforços têm obrigatoriamente de ser feitos na preservação da vida, seja qual for o treino, seja qual for a tipologia de forças que pretendamos preparar. Em tempo de guerra, em conflicto, no desempenho de missões para salvar vidas humanas, temos admitir taxas de atrição que representem baixas mortais nas unidades militares que operam nesses ambientes. Mas em tempo de paz e durante a instrução, não podemos aceitar baixas que redundem em perdas de vidas humanas. E por isso o meu Exército alterou programas, redefiniu rotinas, transformou o Curso de Comandos, renovou os processos, para que em última análise nunca mais ocorressem baixas em termos de treino militar. Mas que fique assente que os militares fazem coisas perigosas, operam equipamentos perigosos, desempenham tarefas perigosas, vivem em ambientes perigosos e aceitam e convivem com esse perigo de forma voluntária, consciente e quotidiana, embora a maioria de nós nem pense nisso. E quer seja “politicamente correto” ou não admitir esta evidência, a verdade é que é assim mesmo.
Agora, discutir os processos de treino ao ponto de afirmar que um indivíduo mantido na caserna até ter terminado o seu processo de desistência, é um acto de tortura e privação de liberdade, é uma afirmação idiota, tola, ignorante, incongruente e afastada da verdade. Só afirma isto quem está de má fé e nunca foi militar ou viveu num quartel. E já agora a manutenção de instruendos desistentes numa caserna até finalizado o processo administrativo é mesmo para proteger e salvaguardar os desistentes… Não percebo mesmo esta obtusa ideia de criticar tudo o que as Forças Armadas fazem… Gostaria de saber a quem aproveita tanta difamação…
A tipologia das unidades militares não se define pelo gradiente de risco que assumem nas suas missões, mas as unidades de Tropas Especiais existem para desempenhar tarefas mais difíceis, mais duras, mais perigosas e com maior número de baixas, quer se goste quer não se goste desta realidade. Por isso mesmo são Tropas Especiais, que exigem um treino especial, mais longo, mais duro, mais exigente, mais técnico, admitindo-se um maior número de desistências. E o que pode parecer atentatório da dignidade pessoal num quadro descontextualizado, nos cursos desta índole visa criar reflexos condicionados e respostas vantajosas que salvam a vida no extremado ambiente de combate. E o que se obtém no fim é um grupo de militares conscientemente voluntários para desempenhar tarefas difíceis e perigosas, que podem significar a vida e a sobrevivência de outros Portugueses dentro e fora do Território Nacional. E quando forem necessários para em situações de conflicto, salvar vidas e recuperar cidadãos nacionais onde estes estiverem, ninguém irá perdoar se Portugal não tiver estes grupos de militares decididos, preparados e capazes de cumprir as missões mais complexas e arriscadas em prol de outras vidas humanas.
Nesta premissa caberá ao Estado Português decidir se quer ter militares preparados para essas missões.
...se quiser, então terá de assumir e defender a continuação de um treino rigoroso e duro por forma a obter Soldados capazes de ir buscar e salvar cidadãos portugueses quando mais ninguém for capaz de lá ir.
Já agora uma pergunta: alguém se dedicou a pensar porque é que apesar de tudo e desta campanha difamatória, os jovens continuam a voluntariamente a aceitar o treino duro, a privação de liberdade e procuram ir para as tropas Especiais?
Já agora uma pergunta: alguém se dedicou a pensar porque é que apesar de tudo e desta campanha difamatória, os jovens continuam a voluntariamente a aceitar o treino duro, a privação de liberdade e procuram ir para as tropas Especiais?
Por isto tudo me sinto tão insultado pelo que vi ontem à noite… Acho que vou deixar de ver televisão."
-Coronel Duarte Costa
Nenhum comentário:
Postar um comentário