quarta-feira, 17 de maio de 2017

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"EFEMÉRIDE:O EXÉRCITO PORTUGUÊS ATACA E DESTRÓI A BASE DE KUMBAMORI
O cerco de Guidaje, pequena povoação a meio da fronteira norte da Província da Guiné, tinha começado há cerca de duas semanas, a 8 de Maio.
Corria o ano de 1973.
Desta vez o inimigo tinha mudado de táctica, concentrando um elevado número de guerrilheiros no mesmo local, cercaram a povoação e minaram todos os acessos à mesma, bombardeando-a quase diariamente.
Tinham a nítida intenção de a assaltar e ocupar.
Estavam apoiados numa base a 6 km chamada Kumbamori, na República do Senegal, que lhes fornecia toda a logística e estava fortemente defendida por armas antiaéreas, nomeadamente o recém - introduzido míssil SAM7, Strella, que tinha causado nas últimas semanas, perdas sensíveis nas aeronaves da Força Aérea, passando a limitar o número e modo como as diferentes esquadras baseadas em Bissalanca, cumpriam as suas missões.
O facto de os guerrilheiros operarem maioritariamente do outro lado da fronteira, dava-lhes segurança e sentimento de impunidade, julgando-se ao abrigo de retaliações das forças portuguesas.
A povoação estava fracamente defendida pois apenas dispunha de uma companhia de caçadores, com efectivos maioritariamente locais, reforçada por meio destacamento de fuzileiros especiais e um pelotão de artilharia com peças de 10,5, num total de cerca de 200 homens. Porém, superiormente comandadas pelo Tenente Coronel Correia de Campos, que se houve de forma notável revelando em alto grau, qualidades de comando, liderança e espírito militar.
A situação era desesperada, faltava tudo, incluindo munições e alimentos e os mortos e feridos não podiam ser evacuados.
A acção da Força Aérea não era suficiente para aliviar a pressão exercida.
Guidaje, que sofreu um total de 43 ataques, estava em sérios riscos de ser assaltada e tomada pelo PAIGC.
O Comando-Chefe concebeu então, a arriscada missão de atacar Kumbamori a fim de desarticular o dispositivo inimigo. Chamaram-lhe “Operação Ametista Real”.
E se bem pensou, melhor o fez.
Porém, a missão obrigava a violar o território do Senegal, país com o qual Portugal não estava oficialmente em guerra, mas que permitia - sem grande entusiasmo, diga-se - a circulação de unidades da guerrilha e a existência de bases de apoio da mesma.
Os militares que integrassem a missão ficariam entregues a si próprios e não poderiam ter apoio aéreo; teriam que lidar sozinhos com as suas baixas e não seriam reconhecidos, caso capturados, como militares portugueses. Foram todos, aliás, sem documentos.
Foi escolhido o Batalhão de Comandos da Guiné, que tinha cinco companhias – três de comandos africanos e as 35ª e 38ª Companhias de Comandos. Pediram-se voluntários, todos se ofereceram.
Foram escolhidas as três companhias de comandos, cujos combatentes eram oriundos das diferentes etnias da Guiné, onde só os comandantes de companhia eram europeus.
A força foi articulada em três agrupamentos. O agrupamento “Centauro” do comando do Capitão Folques; o agrupamento “Bombox”, comandando pelo Capitão Matos Gomes e o agrupamento “Romeu”, do comando do Capitão Ramos; onde estava incluído o pelotão independente do Capitão Marcelino da Mata.
A 38ª garantia a segurança do trajeto Binta- Guidaje
Os cerca de 450 homens internaram-se no Senegal, a partir de Binta, para fazerem o percurso a pé, até ao alvo.
Tornava-se muito difícil manter o efeito surpresa, não só pelo volume de tropas como também por a marcha se efectuar de dia.
De facto uma das companhias foi detectada e o efeito surpresa perdeu-se.
Mesmo assim foi decidido manter o plano de ataque, com o Agrupamento “Romeu” a atacar o objectivo de frente e o Agrupamento “Bombox” a flanqueá-lo.
O Agrupamento “Centauro” ficou em reserva e ia ter a missão mais difícil: proteger as outras duas, na sua retirada.
Era o dia 20 de Maio.
O ataque foi um sucesso, a base foi ocupada e destruída. Muitas toneladas de material e equipamento foram destruídos. Contaram-se 67 inimigos mortos, incluindo dois cubanos e três malianos.
O Agrupamento Romeu apanhou depois com o grosso das forças do PAIGC (onde existiam cubanos e militares de outros países), que se reagruparam e passaram a lançar contra ataques de perseguição. Foram efectuados cinco ataques e chegou a haver luta corpo a corpo.
A situação chegou também a ser crítica e já perto da nossa fronteira foi solicitado apoio aéreo, o qual foi efectuado em condições muito difíceis – as nossas tropas arriscavam-se a ser atingidas por fogo amigo dada a proximidade que estavam do inimigo – mas felizmente com grande sucesso.
O Batalhão de Comandos, comandado pelo então Major Almeida Bruno, que participou na operação, pagou um elevado preço de sangue pela sua bravura e intrepidez: 10 mortos e 22 feridos!
Houve muitos actos de heroísmo.
Guidaje, não ficou salva de imediato. Foi preciso forçar o seu reabastecimento por várias vezes à custa de muito esforço e sangue. E a guerrilha só se deu por vencida nos seus esforços quando uma companhia de paraquedistas conseguiu, mais tarde, entrar em Guidaje e segurar o perímetro.
O cerco tinha durado 30 dias…
Uma vitória muito importante para a qual os justamente afamados militares do Batalhão de Comandos da Guiné, muito contribuíram.
Na sequência dos eventos ocorridos a 25 de Abril de 1974, a maioria dos briosos militares dos comandos africanos, que eram portugueses, combateram como portugueses e queriam continuar a ser portugueses, foram abandonados pelas autoridades político-militares em Lisboa, no tempo do “PREC” e deixados fuzilar pelo PAIGC, cujo principal responsável era o Presidente Luís Cabral. Já depois das hostilidades terem terminado!
Um acto infame, que constitui uma das páginas mais negras e revoltantes da História do nosso País e do nóvel.
Não tem perdão nem deve ser esquecido.
Vamos ter que carregar tal fardo na nossa consciência colectiva, para todo o sempre."
-Brandão Ferreira

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